terça-feira, 8 de maio de 2012

Novo perfil de idosas é marcado por mulheres trabalhadoras, vaidosas e com vida sexual ativa



Ela era uma adolescente de 16 anos quando seu balanço a caminho do mar foi eternizado em uma melodia que ficou famosa no mundo inteiro. Meio século depois, Helô Pinheiro, a garota de Ipanema, comemora novas conquistas na vida profissional: estreou o programa De Cara Com a Maturidade, na Band, e, ao lado da filha, Ticiane Pinheiro, apresenta o Ser Mulher, no canal Bem Simples. Além disso, exerce seu lado empresária como dona de uma grife de moda praia no Rio de Janeiro e de uma linha de roupas esportivas para uma marca em São Paulo.

Casada há mais de 40 anos, com quatro filhos e três netas, ela se divide atualmente entre a vida profissional, familiar e as várias entrevistas que tem dado à imprensa do mundo todo em comemoração aos 50 anos da composição de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. “Está tudo bem corrido. As pessoas querem saber do meu passado e presente”, diz Helô, que também está escrevendo sua biografia.

Aos 66 anos, formada em jornalismo e direito, ela nem pensa em se aposentar e se enquadra em um novo perfil. São as novas sessentonas e setentonas vaidosas, que cuidam do corpo, são atuantes na profissão e não têm nada da imagem da vovó de alguns anos atrás, que não tinha outra perspectiva na vida além de cuidar dos netos e fazer tricô. “A geração de mulheres que está próxima aos 70 anos enfrentou muitas mudanças sociais: começou a tomar pílula, trabalhou fora de casa, aprendeu a dirigir. Elas quebraram tabus e preconceitos, e continuam fazendo isso até hoje”, diz a psicóloga Maria Célia de Abreu, de 67 anos, que há 15 estuda a questão do envelhecimento pelo IDEAC (Instituto Para o Desenvolvimento Educacional, Artístico e Científico).


Essas mulheres estão mais livres. Cuidam mais do corpo e do emocional. Percebo que elas engolem menos sapos, exercem seus direitos, têm amigos de ambos os sexos. Isso não era permitido à mulher casada antes”, diz Maria Célia. Ela acredita que a próxima geração de mulheres maduras enfrentará menos preconceitos. “Tenho impressão de que a fase do espanto com a postura desse grupo está acabando", afirma a psicóloga. "Elas são guerreiras e estão mudando a visão da sociedade. As próximas gerações de mulheres de 60 e 70 anos estarão ainda melhores e com menos tabus para quebrar”.

Ajuda da medicina e exercícios físicos
As mulheres que chegaram com saúde e em forma na terceira idade podem ter contado com a genética. Mas muitas ajudaram a natureza fazendo exames médicos com periodicidade e utilizando as novidades da medicina e cosmética. “Há uma cultura que as estimula a procurar o ginecologista desde cedo", diz Luiz Antonio Gil Jr., geriatra e membro da Sociedade Brasileira de Geriatria Seção São Paulo. "Mas muitas mulheres de 60 anos e de boa saúde têm procurado o geriatra para fazer trabalho preventivo, avaliação geral e identificar potenciais de risco”, afirma. Segundo ele, é impossível estabelecer até quando uma pessoa continuará ativa na maturidade, mas o médico tem acompanhando casos interessantes. “Tenho duas irmãs pacientes, uma de 95 e outra de 93 anos, que moram sozinhas, viajam e usam a internet”.

Casos assim talvez se tornem comuns no futuro, já que a média de vida do brasileiro tem aumentado. Segundo o IBGE, em 2010, a esperança de vida ao nascer do brasileiro era de 73 anos, um crescimento de três anos em comparação a 2000. Para as mulheres, essa expectativa era de 77 anos, sete a mais do que os homens.

Os cuidados com a saúde também incluem uma rotina de exercícios físicos. “Há pouco tempo, os médicos receitavam apenas hidroginástica para as idosas, por ser uma atividade de menos impacto, assim elas não corriam o risco de ter uma lesão", diz a professora de educação física e personal trainer Cloe Celentano. "Com o passar do tempo, os estudos mostraram que o impacto sobre os ossos é benéfico para aumentar a fixação de cálcio e prevenir a osteoporose. Elas começaram a procurar as academias para fazer musculação, que é indicada para mulheres acima dos 45 anos para prevenir o problema”. E, na academia, as novas idosas querem estar sempre bonitas. "Antigamente, elas usavam uma 'calçola' por baixo da calça de ginástica. Hoje estão sempre na moda e usam legging, tênis adequado e batom”, diz Cloe.



Uma das responsáveis por ajudar a cultivar o culto ao corpo no Brasil nos anos 80 foi Ligia Azevedo, de 70, hoje dona de um spa itinerante que leva seu nome. Ela ficou conhecida como a Jane Fonda brasileira porque, assim como a atriz, também fez vídeos para divulgar a ginástica aeróbica que fazia sucesso naquela década nas academias. Mãe de uma filha de 50 e avó de dois netos, foi casada três vezes. A última, aos 40, foi com um rapaz de 23 anos, relacionamento que foi um escândalo na época. “Quebrei um tabu, fui parar em capa de revista por estar com um homem mais novo. Foi pesado”, conta. O casamento durou cerca de 10 anos.

Ligia assume que fez três plásticas no rosto em um período de 30 anos, seguindo os conselhos de Ivo Pitanguy. “Ele me disse que a mulher tem que fazer plástica aos poucos depois dos 40 para nunca envelhecer, diz Ligia. "Fiz pequenas cirurgias a cada 10 anos. Por isso, quem não me vê há 30 anos diz que estou igual”. Ligia garante que não fez mais nenhuma intervenção depois dos 60. Ativa, pode ser encontrada em seu escritório ou nos hotéis para onde leva seu spa na região de Búzios, no Rio de Janeiro, acompanhando as equipes de profissionais e se exercitando com elas. Além disso, ela estuda para se tornar terapeuta em antiginástica, um método que trabalha o alinhamento corporal e corrige vícios posturais. “Quero continuar com meu spa e dar essas aulas para ajudar pessoas”, diz. Solteira, acha difícil encontrar um homem com sua idade e que acompanhe seu ritmo. “Mas quem sabe eu não encontro um de 50 de cabeça boa? Por enquanto não apareceu nenhum”, diz ela que, recentemente, participou do comercial de um cosmético destinado a mulheres com mais de 70 anos.

A dermatologia também tem sido uma aliada das mulheres quando se trata de combater o envelhecimento. A toxina botulínica, o famoso botox, desponta como o preferido de médicos e clientes para paralisar músculos e combater as rugas. Mas há também os cremes à base de ácidos e aparelhos de laser que estimulam o colágeno e tratam a pele. “De maneira geral, as mulheres nessa faixa de idade estão mais jovens do que as das outras gerações, pois temos mais recursos de rejuvenescimento, além da cultura de vida saudável”, diz Natalia Cymrot, dermatologista e mestre em dermatologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “A toxina botulínica pode deixar a pessoa bem, mas precisa de um profissional competente para aplicá-lo. E só isso não ajuda. Com a combinação de procedimentos, o resultado é muito melhor”, diz a médica.

Tabus a quebrar
Para a psicóloga Maria Célia de Abreu, um dos preconceitos que as mulheres acima de 60 enfrentam diz respeito às palavras velho e idoso. “Ouço eufemismos como a idade de ouro, terceira idade, melhor idade. A melhor idade pode ser qualquer uma, dependendo da pessoa e de sua história", diz Maria Célia. "Gosto de usar o termo velho ou idoso, e gostaria que isso não fosse ofensa”.

A questão da sexualidade também está mudando para essas mulheres. “É a quebra da ideia de que depois dos 60 não existe sexualidade, o que é uma mentira enorme", diz a psicóloga. "Essa sexualidade pode se manifestar de várias maneiras, desde demonstrações físicas de afeto como um simples abraço até a pratica do sexo

Funcionária do metrô de São Paulo há 24 anos, dez deles como ouvidora, Vera Melo, 70, concorda. “A vida íntima de um casal acima dos 60 pode ficar muito melhor. A gente aprende a conhecer o outro e a si, perde certas frescuras, vergonhas e timidez. Não temos tempo para isso”, diz Vera, que está casada pela segunda vez há 18 anos.

Helô Pinheiro pensa da mesma forma, mas acredita que a medicina é fundamental para ajudar nesse aspecto. “Tenho vida sexual ativa, mas atribuo à reposição hormonal. Se não fizesse, talvez não tivesse essa vitalidade sexual que tenho", diz. "Depois da menopausa, tem o desequilíbrio dos hormônios. A reposição te dá essa libido, vitalidade. A minha está ótima, graças a Deus”. 

Vera faz parte do grupo de mulheres que vem rompendo tabus há décadas. Aos 38 anos, passou por duas grandes mudanças: deixou a vida de dona de casa para trabalhar como secretária e se separou do primeiro marido. Hoje, mesmo com uma rotina puxada, não se descuida da aparência. Mãe de dois filhos e com um neto, Vera faz questão de tingir os cabelos a cada quatro semanas e de estar com as unhas impecáveis sempre. “Todos os dias, faça chuva ou faça sol, saio do banheiro às 6h30 com maquiagem e só tiro na hora de dormir", diz. "Não admito que uma mulher não tenha brilho”.

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