sexta-feira, 25 de maio de 2012

Operário indiciado por queda de prédios no Rio diz que está abalado




Um dos sete indiciados pelo desabamento de três prédios no Centro do Rio, em janeiro deste ano, o ajudante de obras Wanderley Muniz da Silva, de 22 anos, afirmou, em entrevista ao G1 na noite desta sexta-feira (25), que ficou muito abalado com a notícia. “Não acreditei quando recebi a notícia esta tarde. Minha mãe, que está com cirurgia marcada, chegou a passar mal. Não esperava por isso”, afirmou Wanderley, o primeiro operário a contar para a polícia que paredes estruturais do edifício tinham sido derrubadas.

Ele e outros três operários que participavam da reforma do 9º andar do Edifício Liberdade, o sócio e uma funcionária da empresa TO Tecnologia Organizacional, além do síndico do edifício, foram indiciados no inquérito da Polícia Federal (PF) pelos crimes de desabamento culposo com resultado de morte e dano a bem tombado pela União (Theatro Municipal). De acordo com o depoimento de Wanderley, praticamente todas as paredes do andar foram derrubadas, deixando um grande salão no local.

“Não me arrependo em momento algum de ter dito a verdade. Se o tempo voltasse, faria tudo igual. Procuraria a polícia e contaria a mesma coisa”, afirmou o ajudante de obras. Foi em função do depoimento de Wanderley que a polícia federal pediu uma acareação entre os operários.

Segundo o operário indiciado, a primeira coisa que fará na segunda-feira (28) é procurar um advogado para sua defesa. “Tenho três filhos e não podia faltar o trabalho para procurar um advogado. Agora não tem jeito. Vou fazer isso o mais rápido possível”, diz o ajudante de obras, que vai procurar ajuda na defensoria pública do estado.

O delegado Fábio Scliar, titular da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente e ao Patrimônio Histórico (Delemaph) da PF no Rio, disse que o principal motivo do desmoronamento do edifício Liberdade, o primeiro a ruir, foi uma obra que estava sendo realizada no 9º andar do prédio pela empresa TO.
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"Foram derrubados dois pilares, uma coluna e cinco paredes estruturais, que possuem concreto armado e vergalhões. Além disso, a obra não teve qualquer acompanhamento de engenheiro ou arquiteto. Foi uma intervenção extremamente agressiva à estrutura do edifício. Este foi o motivo determinante para o prédio ruir", explicou Scliar, destacando que o crime é culposo porque nenhuma das pessoas tinha a intenção de que o prédio viesse abaixo.

Delegado responsabiliza síndico
Nesta sexta-feira, Scliar ainda afirmou que o desabamento do Edifício Liberdade poderia ter sido evitado se o síndico Manoel Paulo de Souza Renha, responsável pelo prédio, tivesse avisado às autoridades da irregularidade das obras. “Se o síndico tivesse tomado essas medidas, sou capaz de dizer que o prédio não teria caído”, enfatizou.

“Caso o síndico tivesse avisado aos órgãos da prefeitura e eventualmente nenhuma providência tivesse sido tomada, o síndico teria que ter chamado um policial militar”, afirmou o delegado. “Ele teria que descer do prédio e chamar um policial na rua, fazer um boletim de ocorrência. O Código Civil fala que o síndico tem a obrigação de zelar pelo prédio. Se o síndico tivesse ido mais longe no seu dever, o prédio não teria caído”, concluiu Scliar.

A defesa do síndico, representada pelo escritório de advocacia Evaristo de Moraes, informou que "foram atribuídos a Paulo Renha deveres e responsabilidades legais que a este, como a qualquer síndico, jamais poderiam ser conferidos" Ainda segundo a nota enviada pelos advogados, "todos os projetos e modificações que ocorreram desde a fundação do imóvel foram aprovados e atendiam à legislação vigente".

Em nota, a TO informou que as peças contidas na investigação policial não permitem identificar a causa do desabamento do Edifício Liberdade e que o laudo pericial é inconclusivo quanto à causa do acidente. Por isso, não seria razoável atribuir qualquer responsabilidade aos representantes da TO. Para a empresa, "os depoimentos são claramente contraditórios, não se podendo sequer assegurar que as paredes ditas estruturais foram derrubadas. Segundo os peritos engenheiros do ICCE, não é possível afirmar se estas paredes cumpriam função estrutural adicional ou se eram apenas divisórias”.

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